É curioso como as pessoas acreditam tão fácil num deus pleno, perfeito e total. Para mim parece muito óbvio que todo criador é um carente, um problemático angustiado. Ninguém cria nada a não ser que tenha algum sofrimento interno para resolver. É questão de incentivo, se não sentimos que precisamos, então não fazemos.
Não é como se eu estivesse tirando isso da minha bunda também, o exemplo mais óbvio é a própria história do ser humano. Pensem nos humanos primitivos: todas as nossas criações sempre foram incentivadas pelo perrengue absurdo que a natureza nos faz passar. Lutamos contra as mais terríveis intempéries o tempo inteiro - predadores, doenças, outros seres humanos, pobreza, morte enfim. É frente aos desafios que a realidade nos impõe que o ser humano passou a lascar pedras, aprendeu a fazer fogo, pirâmides, computadores e pornografia, não necessariamente nesta ordem.
É curioso como a própria religião, se pensada historicamente, pode ser facilmente entendida como uma criação humana para lidar com seus próprios problemas históricos, políticos, sociais, econômicos, filosóficos, psicológicos, da época de suas respectivas criações. Os deuses legitimavam do papa ao imperador asteca, do faraó ao imperador do Japão. Os deuses legitimavam a guerra e a conquista, a superioridade de um povo sobre outro e a de uma pessoa sobre outra. Os deuses explicavam porque eramos como eramos, de onde vinhamos e para onde íamos. Eram, enfim, criações das necessidades concretas de uma época, e supriam necessidades concretas da psiquê humana.
Deixando a história um pouco de lado, e passando para um campo mais cultural e psicológico, pensem, por exemplo, na arte. Qualquer um que já escreveu uma poesia, por pior que fosse, ou desenhou algo, por pior que fosse, o fez porque sentiu uma carência a ser suprida: tédio, necessidade de autorrealização, necessidade de colocar algo para fora (principalmente no caso dos famosos desenhos de pirocas voadoras). O grande artista, o grande cientista, o grande filósofo, é alguém angustiado por excelência, é alguém com probleminhas. Alguém pleno não precisa criar nada, está muito ocupado... sendo pleno.
Criar é o cagar do intelecto. A arte e a cultura são o intestino da alma. Nesse sentido, qualquer deus possível é um cagão, um carente precisando colocar algo para fora. O filósofo dizia que só acreditaria num deus que soubesse dançar, pois eu digo que só acreditaria num deus que caga.
Seu deus caga?
Seu deus caga?
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