Eu não consigo me segurar, sempre me sai quase sem que eu perceba: "tive um déjà-vu". É uma estranheza tão animadora que faço questão de compartilhar com o meu interlocutor. Nesse momento todas as superstições são reais, a pós-modernidade vai abaixo e estamos conectados sim a uma metanarrativa que nos levou até aquele momento. Um mundo de déjà-vus não pode ser antropocêntrico assim, seja na sua versão moderna ou pós-moderna. Esse fenômeno nos coloca no nosso devido lugar de personagens sem importância, cumprindo papeis sem importância, pois nem os personagens nem os papeis importam, importa apenas a história em si, um todo cujas partes são grãos de areia.
Às vezes o déjà-vu vem junto com uma sensação de catástrofe iminente. Eu já vi aquilo e vai acabar mal. Algo de ruim está prestes a acontecer. Mas nada acontece, além da sensação de reencenação, de precognição consumada. Acho que isso nasce de um certo desespero, ou no mínimo uma ansiedade. Se esse momento é tão familiar, a ponto de senti-lo como se já o tivesse vivido, deve ser um momento crucial, algo grande deve acontecer. Nada acontece, porque grande e pequeno são tão situacionais. Há vazios gigantescos e violências extremamente banais.
É assim que eles me vêm. É sempre apenas uma tarde ensolarada de quarta-feira. É uma conversa trivial com alguém que encontrei por acaso. É um cheiro que vem junto com um pensamento e uma paisagem e um horário. Não é tão difícil assim que as coisas se repitam. Menos ainda que antecipemos certas possibilidades reais nos sonhos e, quando enfim acontecem, parecemos já ter passado por elas. Ou que o que chamamos de realidade seja um frágil constructo do nosso frágil cérebro. Tão difícil quanto essas possibilidades, é a de termos pequenas visões do futuro. Ou que o cérebro seja um veículo passageiro de algo maior, imortal. Talvez repitamos, sem parar, sempre a mesma coisa no infindável teatro cósmico, a grande live de NPC universal.
tem planos de mudar o post para outra plataforma?
ResponderExcluirtalvez Discord,Twitter ou Youtube?
adorei o post sobre o Masayoshi Takanaka
Muito obrigado, eu sempre considero outras redes, mas elas não abraçam bem esse formato.
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